sábado, 7 de agosto de 2010


Trago uma, duas, três vezes o pouco do que me restou de cigarro entre os dedos e solto impacientemente a fumaça em sua face. "Isso foi rude", você me critica. Sou rude, eu não lhe confidencio. Encaro seu olhar repreensivo e penso: o que faço aqui contigo? Já tenho um pai que me olhe com recriminação. Não preciso de mais um. Levanto bruscamente da cadeira e abro a porta de meu apartamento: "saia". Deixo a passagem livre e espero que não insista em ficar. "Já acabou", penso e sei que você também sente. "Vamos. Dê o fora de uma vez por todas. Não tenho o tempo do mundo em minhas mãos." Você, então, demora mais alguns segundos sentado, mas, por fim, levanta em direção a onde estou. Aproxima-se de minha boca e pede um beijo que não ocorre. Viro o rosto. Não preciso que me lembre o quanto não suporta meu hálito impregnado de nicotina. "É mesmo essa a última lembrança que deseja ter de nós?" Você, portanto, beija minha testa e eu permaneço com o cigarro entre os dedos. Estática, não faço o que, de repente, sinto vontade. Puxar seu corpo pela nuca e beijar seus lábios, casando nossos corpos em uma união perpétua de apenas algumas horas. Puxo e beijo e caso apenas em pensamentos, porque quando abro os olhos, vejo que a porta já se fechou e você já se foi.

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