terça-feira, 17 de agosto de 2010


Bato na porta de seu apartamento. O espanto em sua face me pega desprevenida. "Ah, não aja como se eu tivesse me convertido ou coisa parecida. É só uma visita." Não lhe digo, embora seja o que pense. Finjo que deixei alguns pertences meus em sua casa. Para minha surpresa, você já havia os separado. Então, realmente acabou. É isso? Fico nervosa, de repente. Pergunto: "se incomoda se eu acender um cigarro?" Não precisou que me respondesse. Eu vi o “não” em seu rosto nitidamente. Meu pai protetor voltando a invadir seu olhar. Preciso tragar alguma coisa. Torço a boca, evidentemente contrariada. Uma expressão mais automática que, por mim, comandada. Você me analisa. "Vê como isso já altera seu humor?", puxa o cigarro de minha mão e o acende com o isqueiro que eu já estava prestes a guardar. Leva-me à varanda, como se eu fosse um peixe, ao segurar aquela apetitosa isca. Enfim, o trago que eu tanto desejava! Ah, como já sinto um pouco do alívio da tensão enorme sobre meus ombros. "Você está bem? Parece mais magra." Você ainda se importa comigo. Comprovo a julgar seu olhar. Por que não me procurou, então? Sorrio levemente. Satisfeita ao ver que, pelo menos, o sentimento ainda não acabou. Ele ainda existe dentro de ti. "Desculpa", solto a palavra finalmente, embora de maneira tão contida que nem mesmo você acredite. "Desculpa pelo quê? Você, arrependida? Essa seria nova." Sinto a raiva subir à cabeça. Trago várias vezes, sem responder à tamanha provocação. "Isso ainda vai te matar." Ah, e eu ainda mato você! Bagunço as mexas de meu cabelo, apago o cigarro e vou em direção a meus pertences já separados por meu amor irritante. Sinto sua mão, puxando um de meus braços. "Aonde você pensa que está indo?", seus olhos estão intensos em mim. "O que você acha?", era óbvio que eu estava indo embora. "Pensei que estivesse iniciando um pedido de desculpas." Mal sabe ele que eu não pretendo dizer mais do que já dissera. "Larga esse vício que eu volto contigo." Você, estabelecendo condições agora? Eu nem sequer imploro que retorne para mim. Pego minhas coisas e saio dali. Você não volta a me impedir. Tento passar o resto da noite sem cigarros. Não consigo.

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