E sobre aquela noite em claro...


Santiago, ao me ver levantando no meio da noite, sussurra Adriana Calcanhoto ao pé do meu ouvido. Puxa-me de volta para a cama. Canta para eu dormir: “sou seu fado, sou seu bargo, se você quiser ouvir, o seu eunuco, o seu soprano, um seu arauto; eu sou o sol da sua noite em claro, um rádio; eu sou pelo avesso, sua pele, o seu casaco; se você vai sair, o seu asfalto; se você vai sair, eu chovo sobre o seu cabelo, pelo seu itinerário; sou eu o seu paradeiro, em uns versos que eu escrevo, depois rasgo, e depois rasgo.” Por fim, consigo, mas logo acordo. Não há músicas de Adriana suficientes para manter meu sono. Saudade. Saudade. Saudade. Não importa quantas vezes eu repita. A palavra simplesmente não se gasta. Continua cravada no peito de onde dificilmente sai. Santi continua a cantar e eu a chorar. As lágrimas não acabam. Só acaba o sono que nunca vem: “eu perco o chão, eu não acho as palavras, eu ando tão triste, eu ando pela sala, eu perco a hora, eu chego no fim, eu deixo a porta aberta, eu não moro mais em mim. Eu perco as chaves de casa, eu perco o freio, estou em milhares de carros, eu estou ao meio. Onde será que você está agora?” Só espero que bem, mon ami. Bem. É a única consolação eficaz que tenho. O seu bem-estar, que eu nunca mais poderei assegurar.

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